sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Trechos de "Viagens com o Presidente"

Trechos de "Viagens com o Presidente". O livro foi escrito pelos jornalistas Eduardo Scolese, da Folha de S. Paulo, e Leonencio Nossa, de O Estado de S. Paulo.


RELAÇÕES COM OS SUBORDINADOS
Numa tarde de calor infernal, o presidente Lula estava suado, abraçando e beijando admiradores numa cidadezinha da Bahia,e pediu uma toalha, com urgência. O ajudante de ordens ouviu e saiu meio desajeitado, lento, e Lula, irritado, comentou: "Olha o bundão, lá vai o bundão pegar a minha toalha". Ninguém estranhou. O governo mal começava, mas o descaso com as boas maneiras já era rotina no Planalto.

AINDA AS RELAÇÕES COM OS SUBORDINADOS
"Cadê as cartilhas, porra?" Esbraveja o Presidente da República. O ajudante de ordens tenta se desculpar. O Presidente está uma fera, elevando o tom da voz na frente de todos. Vermelho de raiva, Lula grita ao funcionário: "Como é que não trouxe as cartilhas, seu incompetente!"

LACAIOS COM DIPLOMA
"Tá vendo? Eu não tenho mesmo curso superior, mas quem carrega papel para mim tem.
Todos eles têm curso superior", disse Lula a um ministro, depois de receber um discurso das mãos de um assessor.

A SABEDORIA DA PRIMEIRA-DAMA
No final do primeiro ano de governo,Lula vai ao Egito e visita o Museu do Cairo. Naquele dia, o primeiro comentário ocorre quando é informado de que a tumba do faraó Tutancâmon foi a única entre as dos imperadores egípcios a resistir aos ataques de saqueadores:
- "Veja desde quando vem o crime organizado!" A seguir, é a vez da primeira-dama soltar a sua apreciação, ou ouvir do guia que os egípcios seguiam setenta mandamentos, e não apenas dez:
- "Imagine, setenta. É muito pecado!"

COMO DAR NOTÍCIAS
Lula, durante viagem ao Japão, a um assessor que queria fazer-lhe um relato das atividades da CPI dos Correios, nesse dia: "Deixa eu te dizer uma coisa, meu caro. É o seguinte.
Se você tiver que dar uma noticia ruim a um companheiro, não faça isso à noite, pelo amor de Deus. Se tiver passado das nove da noite, primeiro que não vai ter tempo para resolver mais nada naquele dia, e segundo, você ainda vai fazer o favor de estragar o sono do companheiro.
Ele não vai conseguir dormir mais com aquela coisa martelando na cabeça." O Presidente olha o assessor e solta mais uma preciosa dica: - "Ah, e de preferência também não dê uma notícia ruim a um companheiro pela manhã. Não dê, não dê. Isso vai fazer o companheiro começar o dia num baita mau humor. É horrível."

DISCUSSÃO CRÍTICA DA IMPRENSA
Na viagem que fez à Bolívia em janeiro de 2006, Lula fica irritado ao ler um artigo de jornal que aponta algumas falhas na política agrária do governo federal: - "Tem que mandar esse cara aqui tomar no cu. A gente aumenta o número de contratos da agricultura familiar, faz uma reforma agrária de qualidade e investe no agronegócio e ainda tem que ler isso aqui?"
-Ao notar o silêncio dos assessores, Lula prossegue o ataque:
- "Num caso como esse não tem jeito, meus caros, não tem jeito. Tem que mandar tomar no cu mesmo, não tem outro jeito."

VALE TUDO CONTRA ADVERSÁRIO
Numa sessão de cinema, no Palácio da Alvorada, num dos raros momentos em que o Presidente se dispõe a bater papo com senadores e deputados, ele foi questionado, em tom de brincadeira, pela senadora Ana Julia, do PT paraense.
--Presidente, diga para nós. O que existe de fato entre o senhor e o governador sergipano João Alves?
- "Eu sempre quis foder o João Alves. Já fiz aliança com todo mundo lá,com o Albano Franco, com o Almeida Lima. Eu faço aliança com qualquer um para foder o João Alves. Esse eu quero foder de qualquer jeito."

MANDANDO ENFIAR O DISCURSO
Na suíte presidencial de um hotel de Georgetown ao receber de um assessor o texto do discurso que fará sobre o combate mundial à fome.
Diante do Ministro Celso Amorim e de funcionários do Palácio do Planalto e do Itamaraty, o presidente folheia rapidamente a papelada e a arremessa a metros de distancia: - "Enfiem no cu esse discurso, caralho. Não é isso que eu quero, porra. Eu não vou ler essa merda. Vai todo mundo tomar no cu. Mudem isso, rápido."
"Mas isso também não basta para 'energizar' o presidente, por isso, a assessoria cria a 'hora da princesa'. De segunda a sexta, por volta das 15h, o gabinete é aberto para receber vereadores, antigos companheiros de sindicato, padres, princesas de festas regionais (daí o nome), empresários e pessoas simples que telefonam pedindo para tirar uma foto ao lado do presidente (...) Um assessor avalia: 'A hora da princesa é o momento depois do almoço para o presidente ganhar fôlego. As pessoas não entram no gabinete para pedir nada. Os abraços são gratuitos, fazem muito bem a ele. Podem chamar de populismo. (...) Após a hora da princesa, é outro homem'."

O MELÔ DO DIRCEU
"Nessa viagem ao Rio, o presidente está bem no estilo 'paz e amor' da campanha, com sua dose de animação um pouco além do habitual. Naquele dia, talvez por conta do esfriamento da crise política, resolve levar tudo aquilo na brincadeira. Em dado momento, para espanto e depois risos dos que o acompanham, o presidente caminha até a janela de seu luxuoso quarto e passa a cantarolar junto com os manifestantes o refrão de uma paródia feita para o ex-ministro da Casa Civil: 'Ei, José Dirceu, devolve o dinheiro aí, o dinheiro não é seu'. Saltitante, Lula repete o refrão com um sorriso aberto e os dedos indicadores para o alto como se estivesse num baile de Carnaval."

ACALMANDO A FERA COM CAFÉ E CIGARRILHA
"Lula não mede as palavras e fala o que quer (...). Embora não seja cordial como o antecessor, o presidente é visto com simpatia pelos seguranças por ter, segundo palavras dos próprios, a disposição de trabalho e o jeito durão de um militar. Não tem muita paciência. Para ele, tudo tem que ser na hora. Costuma estressar-se com auxiliares a qualquer vacilo. Fica nervoso, por exemplo, se vai a algum lugar que não tenha um café expresso à disposição. Ajudantes-de-ordens, assessores e seguranças sabem que o bom humor do presidente pode ir para o espaço se ele não conseguir fumar sua cigarrilha com uma xícara de café na mão."

"LÁ VEM O LEÃO"
"Nas viagens, em conversas pelo rádio, os seguranças recorrem a inúmeros códigos para garantir a integridade do chefe do governo. Em cada missão, o presidente é chamado por um apelido, geralmente em referência a mamíferos ou planetas (...). 'Lá vem o Leão', 'a Pantera está a caminho', 'Saturno tem pressa e está nervoso', o 'Eclipse apareceu'. Já a primeira-dama é muitas vezes chamada de 'Estrela' ou 'Damasco' (...). Os integrantes do Itamaraty têm um tratamento carinhoso e diferenciado, com direito até a nome de desenho animado. Diante da aproximação dos diplomatas, os seguranças comunicam os sinais de alerta: 'Lá vêm os Bambis' ou 'as Gazelas estão a caminho'."

EXAME DE PRÓSTATA COM A MINISTRA
"Numa audiência com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, na época em que o governo começa a discutir a transposição de parte das águas do rio São Francisco, o presidente ouve a opinião contrária dela às obras e os argumentos favoráveis dos técnicos da área. Após ouvi-los, consola a ministra: 'Marina, essa coisa de meio ambiente é igual a um exame de próstata: não dá pra ficar virgem toda a vida. Uma hora eles vão ter que enfiar o dedo no c... da gente. Então, companheira, se é pra enfiar, é melhor que enfiem logo'. Lula, até para mostrar personalidade em relação aos 'estudiosos' e 'professores' do governo, leva para dentro do Planalto seu jeito descontraído, seu costume de falar palavrões."

O CIÚME DA PRIMEIRA-DAMA
"Marisa Letícia não se sente bem ao lado de seguranças. Se for mulher, pior ainda. Segurança mulher e ainda mais bonita, sem chance. No início do governo petista, uma militar alta e loira que fazia a segurança de Ruth Cardoso foi logo dispensada. A primeira-dama quer vê-las bem longe do marido (...). Ela gosta de cuidar da privacidade da família. Um exemplo disso ocorreu no início de governo, quando cortou as asinhas de alguns ajudantes-de-ordens que trabalhavam no Alvorada e se achavam no direito de circular livremente nas áreas privativas da residência. Marisa proibiu esse vaivém."

A "HORA DA PRINCESA"
"Mas isso também não basta para 'energizar' o presidente, por isso, a assessoria cria a 'hora da princesa'. De segunda a sexta, por volta das 15h, o gabinete é aberto para receber vereadores, antigos companheiros de sindicato, padres, princesas de festas regionais (daí o nome), empresários e pessoas simples que telefonam pedindo para tirar uma foto ao lado do presidente (...) Um assessor avalia: 'A hora da princesa é o momento depois do almoço para o presidente ganhar fôlego. As pessoas não entram no gabinete para pedir nada. Os abraços são gratuitos, fazem muito bem a ele. Podem chamar de populismo. (...) Após a hora da princesa, é outro homem'."

EU ODEIO O SUCATÃO
"A compra de um novo avião presidencial se tornou uma das obsessões do governo Lula. Uma prioridade. Mesmo ciente de que tal iniciativa poderia render-lhe um desgaste na opinião pública, por investir milhões de dólares na compra de uma aeronave diante de milhões de miseráveis no país, o presidente manifestava a certeza de que valia mesmo a pena arriscar. Tudo isso para se livrar do barulho e das constantes oscilações de temperatura no interior do Sucatão (...). Em solo, Lula dizia que o Boeing parecia um forno de microondas. No ar, segundo o presidente, um freezer ligado com a máxima potência."

A "SENZALA" DO AEROLULA
"Ao entrarem no Aerolula, ministros, assessores e demais credenciados encontram seus respectivos nomes em etiquetas coladas pela FAB em cada um dos assentos (...). Em conversas sem a presença do presidente, ministros e integrantes do alto escalão do governo chamam a parte traseira da aeronave de 'senzala', enquanto a cabine presidencial leva o apelido de 'casa-grande'. Ficar na senzala durante todo o vôo e não ser chamado por Lula para uma conversa na cabine presidencial é um sinal de falta de prestígio. Muitos preferem o constrangimento de se oferecer para uma conversa a correr o risco de serem ignorados por Lula na viagem."

DORMINDO NO CINEMA
"Logo na primeira sessão do cine Alvorada, Lula bola uma estratégia para evitar ao máximo o contato com os parlamentares. Chega ao local de exibição com um copo de uísque na mão já com o filme em andamento (...) Naquele dia, aos deputados e senadores ansiosos para pedir liberação de verbas para seus currais eleitorais, resta esperar o fim da sessão para falar com o presidente. Lula, que dormiu e roncou alto durante boa parte da exibição de Narradores de Javé, levanta-se rapidamente assim q ue o filme termina e numa tentativa inócua de ser sutil manda todo mundo embora de sua residência: 'Gente, vamos embora porque amanhã eu tenho muito o que fazer'."

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